terça-feira, 14 de junho de 2011

  Não consigo me olhar no espelho! Não o que reflete a imagem, mas o que reflete minhas vísceras. Por isso, evito escrever a tanto tempo. Palavras de mim andam doendo até em meus dedos, e a voz da caneta soa rouca, como quem prefere calar.
       Minha velha amiga, a complexidade, se tornou um problema pra mim. Tento perdoá-la. Quem sabe ela só faça tantos labirintos para que eu consiga, enfim, achar graça na simplicidade. Na minha cabeça gritam referências de antepassados que eu preferia silenciar. Mas o que sou ou serei eu, senão referências de antepassados com pulsões evolutivas???
       Se eu pudesse ser um deus, faria pessoas de música e orgasmo. Acho que por sermos tão carentes de qualidades que nós humanos acabamos por aceitar qualquer coisa que se pareça com uma. Esquecemos de transcender. No tubo de ensaio da alma, substancias entram e saem sem causar reação alguma.  
       Às vezes vou ao meu cemitério deixar cravos de defunto a uma menina bobona. Quando dou as costas, escuto baixinho ela rindo do meu medo. Sabe que lacrei minhas entradas e zomba de mim. Se parece tanto comigo, mas nunca sairia correndo sem chorar, como eu.
       Quando volto pra casa e me vejo esperando com um sorriso, não sei se choro ou brigo. Na verdade, nem sei se finjo que dessa vez é diferente. Outra descida às sombras e eu venho com as mãos abanando. Só consigo visitar cemitérios.
       Lá está minha mãe, a menina que vejo no mesmo balanço que ando usando há uns duzentos anos. Quando eu nasci, as coisas tinham até um cheiro diferente. Agora tudo é uma tentativa desengonçada de reviver o passado.  
       Sinto essa vida pesada! Não tanto sobre meus ombros. Tenho privilégios como um tigre raro que foi aprisionado pra fugir da extinção. A me sentir tão incapaz, não me atrevo. Mas há um medo que acimenta, uma densidade nebulosa, que dificulta a visão, uma distância sem ponte entre as pessoas, um padrão absurdo que ninguém segue, mas todos cobram.
       Quando eu viro miúra, me domam, engaiolam e vendem minha pele. Se me faço tornado, me prevêem, fogem, têm medo. Se sou bicho manso, me exploram, me montam e desmontam. Se sou chuva leve, incomodo, agonio, afasto... Adoro quando posso chorar, mas qualquer olho que me vê é como guarda das minhas lágrimas...
       Vejo no meu quarto, agora, muitos vestígios de tudo que eu gosto. Nada inteiro, só o sinal destas existências. São existências que montam meu pesadelo pessoal. Venero pesadelos! Fazem eu me sentir uma legítima temerária, com um medo “real” de algo “irreal”, ou vice e versa. Como a sensação que temos no balanço, um psêudomedo, que vai e vem.
       E agora? A bobona esta aí, grande em proporções e não sabe levar à frente seu legado qualquer. Não sabe ainda fazer como os adultos: desejar menos. Controle, muito controle. Acomodar-se, acostumar-se, aceitar, mandar... Viver a vida juntando conveniências para viver a vida.
       Ah! Coitada da menina, sentada em qualquer calçada. Esperando, quem sabe, amanhã aparecer com algo inesperado. Mas o amanhã é seu inimigo, assim como seu irmão univitelino, e o inesperado é voraz!
           Às vezes a sensação de frio na barriga me é indispensável, por isso me jogo do precipício. Mas também, só me jogo por não saber o que há no fim dele.

Nanna Carolina 

Faça do seu complexo o seu ganha pão!

domingo, 12 de junho de 2011

Love Suck's